Resistência à mudança

Conheci a música pelos cartuchos que o meu pai tinha lá em casa. Não havia gira-discos nem telefonia. Passavam Mário Mata, Zeca Afonso, Roberto Carlos e Sérgio Godinho pelos meus ouvidos, vindo directamente de um calhamaço deste género:

Inveja dos Gira-discos. Agora queria comprar umas coisas ali à porta da Fnac e não posso.

Quando em minha casa se comprou a primeira televisão a cores, o meu pai, homem de hábitos, disse claramente ao senhor da Philips que não queria essa modernice de "comando remoto".
Pois está claro que cada vez que alguém queria mudar de canal, acabou por perceber o seu erro e assumir que o que era de homem era levantar o rabinho do sofá para o fazer.
Aprendeu a lição.
Na televisão que comprámos a seguir escolheu a que tinha o comando com mais botões.


Quando convenci a minha mãe a comprar um leitor de DVD, o meu pai ficou todo chateado.
Fã confesso das cassetes de vídeo VHS, afirmou categoricamente que "não tinha jeito nenhum" andar ali sem poder andar para a frente e para trás.


Bonito.
Hoje é o fã número um dos filmes em DVD.
Compra tudo: revistas, jornais, suplementos e colecções planeta Agostini que ofereçam seja que filme for. E depois aos sábados de manhã vai para a sala contá-los todos, e fica contente porque tem muitos. E quando acha que tem poucos, ainda dá um pulinho ao meu quarto e vai contar os que para lá estão, que, para todos os efeitos, alargam em número a já extensa colecção de filmes.
(Ah, resta dizer que grande parte deles ainda está dentro do plástico:)


Seja como for, estou com medo que ele me venha dizer que em vez de comprar um plasma, vai comprar um destes:


Medo, muito medo